19 de setembro de 2019
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Aqueles que imaginavam encontrar Dilma Rousseff recolhida ou abatida enganaram-se redondamente. Foi o que ela demonstrou, quarta à noite, ao aceitar o convite do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas em Paris. A ex-presidente brasileira foi destituída pelo o que ela qualifica como um “golpe de Estado parlamentar”. O golpe foi seguido pela prisão do legendário Lula da Silva, que encontra-se ainda encarcerado. Uma condenação de quinze anos de prisão o impediu de concorrer nas últimas eleições presidenciais, nas quais ele era franco favorito. Foi desta maneira que Jair Bolsonaro tornou-se presidente da República Federativa do Brasil. Observando a “regressão social, estratégica e diplomática” do país, o diretor do IRIS, Pascal Boniface, se inquieta: “A estrela do Brasil apaga-se no mundo”.

Uma jovem democracia
Como chegou-se a esta situação e o que está por vir são os “dois processos” que Dilma Rousseff quis explicar. “Somos uma democracia ainda jovem e frágil”, conta. De fato, os militares, após um golpe de Estado em 1964, impuseram sua ditadura por mais de vinte anos. “É uma democracia negociada pela elite” que surge em 1985.

Para esta elite, a eleição de Lula, líder carismático do PT (Partido dos Trabalhadores), é uma catástrofe. Seu sucesso político deve-se muito ao cumprimento de suas promessas aos pobres – com bolsas para as famílias, o programa “Minha Casa, Minha Vida”, o esforço para a educação, proteção aos indígenas, etc., 36 millhões de brasileiros saíram, então, da extrema miséria – ao mesmo tempo em que assegurou o desenvolvimento econômico do país com o apoio de grandes companhias nacionais, como a petrolífera Petrobras. Isto foi o que ocorreu no Brasil, que quitou o Fundo Monetário Internacional em 2005 e saiu ileso da crise financeira de 2008.

Operação Lava Jato
“Foi quando”, conta Dilma Rousseff, que “a ofensiva da oligarquia adepta ao ultraliberalismo” interveio. “Eu fui o ato inaugural do processo. Após 6 meses da minha eleição, enfrentei 16 pedidos parlamentares de destituição, ruidosamente orquestrados pelas mídias”.

“O caos é a ordem”
A justiça brasileira lança a Operação Lava Jato, que visa o PT mas não incomoda os líderes da direita tradicional instalados no poder. O caminho é liberado para Bolsonaro, desconhecido, inesperado e providencial. “Devo destruir muito antes de construir”, ele anuncia. “A ordem dele é o caos”, resume Dilma Rousseff. “A ampliação do porte de armas, atuação livre para as milícias paramilitares, o saque da Amazônia, a falência da democracia”.

A importância da solidariedade internacional
O que resta é a solidariedade internacional. “Os senhores subestimam vossa importância”, diz Dilma Rousseff aos seus interlocutores franceses. E a capacidade de reconstituir, no Brasil, uma frente democrática. Ela está determinada, mas não sustenta ilusões. “Nós desempenhamos uma luta a médio e longo prazo. O Brasil precisou de 21 anos para digerir os estragos causados pela ditadura militar. Nosso país possui uma série de esqueletos no armário”.

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Le Télégramme