15 de março de 2021

A anulação das sentenças contra Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro discurso do ex-presidente após a decisão proferida pelo ministro Edson Fachin desencadearam forte repercussão na imprensa internacional.

Entre notícias, artigos e reportagens, foram mais de 150 publicações nos principais veículos das Américas, Europa e Oriente Médio, que contou com notícias na Al Jazeera e no jornal israelense Haaretz.

Algumas destas publicações ganharam lugar de destaque nos sites de notícias ao redor do mundo.

É o caso do The New York Times que trouxe o assunto como sua reportagem de capa no mesmo dia em que Fachin decretou a ausência de jurisdição da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar processos envolvendo o ex-presidente. Assim como outras mídias nos Estados Unidos tais como a revista Foreign Policy, a Bloomberg, a Associated Press, o The Washington Post e a CNN, o jornal nova iorquino evidenciou o potencial que a anulação das sentenças contra Lula da Silva tem para transformar o futuro político do Brasil.

Na manchete do NY Times: “Processos são anulados e Lula pode concorrer à presidência novamente”

O matutino português Público aponta para uma perspectiva positiva de mudança no cenário brasileiro no artigo assinado por Manuel Carvalho. Para o jornalista, com a reabilitação dos direitos políticos de Lula, “o Brasil limpa uma nódoa no seu Estado de direito. E, ao fazê-lo, sinaliza que a sua democracia resiste.” Além disso, argumenta que o “caso de Lula interessa a todos os que, sendo de direita ou de esquerda, sendo defensores ou críticos do ‘lulopetismo’, acreditam que a igualdade dos cidadãos perante a lei é o esteio básico das sociedades democráticas.”

Como tornou-se evidente desde o escândalo da Vaza-Jato, ao ex-presidente Lula da Silva não foi concedido o direito de ser tratado com igualdade perante a lei. Ao contrário, a condução do julgamento se deu de forma injusta e parcial tanto por parte dos procuradores que, de acordo com a Der Spiegel, “violaram todas as normas características de um judiciário independente” criando intrigas e alimentando “deliberadamente a imprensa com meias verdades e depoimentos manipulados”, quanto por parte do juiz então responsável pelo caso, Sergio Moro, que trabalhou com os procuradores para “condenar o ex-presidente antes que ele pudesse competir nas últimas eleições presidenciais”, como reporta o argentino Clarín.

Diz um trecho do editorial publicado pelo Le Monde: “Durante anos, a imprensa noticiou as irregularidades acumuladas pela operação anticorrupção “Lava Jato”. As revelações do site investigativo The Intercept confirmaram: Lula foi condenado e encarcerado sem provas concretas dos atos de corrupção de que era acusado, ao final de um processo que era em muitos aspectos ilegal, que presumivelmente visava a sua exclusão do jogo político.”

Na Espanha, o El País destacou que “a decisão é uma vitória de Lula, que impetrou habeas corpus no Supremo Tribunal Federal há mais de dois anos, assim que Moro anunciou que aceitaria o convite para ser ministro da Justiça do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro”, com quem Lula da Silva teria disputado as eleições de 2018 não fosse a ação do próprio Sergio Moro, que despachou ordem de prisão contra o Lula em abril daquele ano. Ainda em curso, o julgamento do habeas corpus foi retomado pela Suprema Corte na semana passada.

Além do El País, outros veículos europeus repercutiram a vitória judicial de Lula, entre eles os espanhóis El Mundo e o El Diário, os diários franceses Le Monde, Courrier International e Le Figaro e importantes publicações da Alemanha, a exemplo do Deutsche Welle, Süddeutsche Zeitung e Frankfurter Allgemein. O assunto também ganhou jornais italianos de grande circulação como Repubblica, Faro di Roma e Corriere della Sera.

Manchete do La Repubblica: “Brasil, Supremo Tribunal Federal anula sentença de Lula: ex-líder pode se recandidatar em 2022”. A reportagem informa que “Lula sempre se declarou inocente, mas saiu da prisão com a cabeça erguida quando lhe foi concedido o direito de responder aos processos em liberdade.”

A decisão do ministro Fachin também ganhou as páginas dos tradicionais Financial Times, The Economist, BBC e The Times no Reino Unido. O The Guardian relembrou o contexto de crise econômica e sanitária que o Brasil atravessa. “A decisão de segunda-feira foi um ponto de virada inconfundível e potencialmente positivo para aqueles que queriam o fim do governo Bolsonaro, sob cuja supervisão altamente polêmica mais de 265.000 brasileiros perderam suas vidas para a Covid-19”, afirmou o cientista político Thomas Traumann ao jornal britânico.

Na América Latina, os jornais La Razón (Bolívia), El Espectador (Colômbia), El Universo (Equador), La Tercera (Chile) e os argentinos Clarín, La Nación, Perfil e Página/12 publicaram reportagens. No México, o La Jornada lançou três publicações durante a semana em que a decisão de Fachin foi anunciada. Os artigos abordavam a anulação das condenações, o fim da Operação Lava Jato e as barbáries praticadas pelo poder judiciário na região.

Manchete do La Jornada: “Juiz brasileiro anula todas as condenações contra Lula da Silva”

Na reportagem publicada no dia 8 de março, o jornal ressalta a incompetência da 13a Vara Federal de Curitiba, comandada por Moro. “A defesa do ex-presidente (2003-2011) insistiu, por quase cinco anos, que o ex-juiz Sergio Moro não tinha jurisprudência para tratar das denúncias contra Lula, já que a chamada Operação Lava Jato deveria ser restringida a atos de corrupção na estatal Petrobras”, informou o jornalista Eric Nepomuceno.

Solidariedade Internacional
Personalidades de peso, movimentos sociais e partidos políticos comemoraram a decisão monocrática proferida no dia 8 de março pelo magistrado Edson Fachin. Entre eles, presidentes e ex-presidentes de países latino-americanos, como Alberto Fernández (Argentina), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Miguel Díaz Canel-Bermúdez (Cuba), Ernesto Samper (Colômbia), Ricardo Lagos (Chile) e Andrés Manuel López Obrador (México).

Evo Morales postou: “Por fim a justiça foi feita para o irmão @LulaOficial, vítima de cruel perseguição e lawfare por parte da direita com fins políticos. O Supremo Tribunal do #Brasil anulou as sentenças que pesavam contra ele e, assim, restaurou-lhe seus direitos políticos. Grande alegria na Pátria Grande”.

Na Alemanha, o ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz se manifestou publicamente em apoio a Lula: “Há dois anos me encontrei com o ex-presidente brasileiro Lula em Curitiba – em sua cela de prisão. O Supremo Tribunal Federal devolveu ontem todos os seus direitos políticos e ele deve concorrer nas eleições de 2022! Teria meu apoio”.

O prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel também se solidarizou: “Bravo querido @LulaOficial pelo seu compromisso inabalável com a verdade, a justiça e a democracia. O povo irmão do Brasil merece respeito e poder escolher um candidato com essa integridade.”

A prefeita de Paris Anne Hidalgo, de quem Lula recebeu o título de cidadão honorário de Paris, e o líder da França Insubmissa Jean-Luc Mélenchon também celebraram.

Hidalgo publicou: “Muito feliz ! Justiça feita para @LulaOficial”.

Mélenchon também utilizou as redes sociais: “Após cinco anos de perseguição, todos os processos contra @LulaOficial foram anulados! Lula está livre. O ‘juiz’ Moro e sua gangue repudiados. O judiciário brasileiro se recusa a fazer trabalho sujo.”

Ao todo, foram mais de 50 manifestações de solidariedade ao redor do globo que podem ser vistas através desse link.